[ARTIGO] Que Guarulhos é essa?

Sendo a maior metrópole de São Paulo, Guarulhos enfrenta dificuldades além do que a mídia mostra, tanto em infraestrutura quanto em saúde. O principal veículo de comunicação da região - Guarulhos Hoje - traz diversas pautas da cidade, porém, não apresenta um fluxo de matérias aprofundadas e críticas, e muito menos consegue abarcar todos os fatos relevantes de todos os bairros.

Guarulhos sofre com rodízios de água há muitos anos, tendo sua liberação em apenas alguns dias e por poucas horas. Na educação, a cidade enfrenta problemas com a falta de professores nas escolas e evasão de alunos no ensino médio, principalmente em bairros mais pobres. Na saúde - tópico mais abordado pela mídia de massa - as dificuldades são constantes com falta de medicamentos e postos sem médicos ou fechados. O maior exemplo é o Hospital Municipal de Urgência (HMU) que, em agosto de 2018, foi denunciado por moradores pela falta de higiene, o que gerou doenças provocadas por superbactérias. Esse é um exemplo dos graves problemas que afetam toda a população, e mesmo assim jornais da cidade ignoram vários fatos, juntamente com os outros veículos da grande mídia.

A HMU de Guarulhos enfrenta problemas desde 2015, o Instituto Gerir, antigo administrador do hospital, deixou a gestão em 2017, quando a Prefeitura de Guarulhos recebeu diversas queixas de moradores sobre a insuficiência de atividades, e então o hospital passou a ser administrado por duas organizações sociais: a Santa Casa de Birigui e o Instituto de Desenvolvimento de Gestão, Tecnologia e Pesquisa em Saúde e Assistência Social. O hospital ainda continuou com suas dificuldades mesmo no comando destas organizações. Algumas das adversidades que pacientes sofrem envolvem o cancelamento de diversas consultas por falta de materiais, atendimentos com 1h a 3h de espera - segundo os moradores da região - e os médicos só recebem pacientes emergenciais que chegam de ambulância. Além disso, esse ano o hospital sofreu um alagamento devido às fortes chuvas que entupiram os córregos ao redor do hospital, o que fez com que a água invadisse o estabelecimento.

Pautas com estes problemas não foram abordados pela mídia local, os jornais municipais - todos disponíveis apenas em plataformas online - tratam de pautas frias e de serviço público, como dia de vacinação, emprego e atividades culturais. O que fazem com que sejam muito mais um mural de informações públicas do que um veículo preocupado em atender as necessidades emergentes do público. Todas as pautas de saúde são voltadas à vacinação ou a alguma doença que está se espalhando pela cidade, e os assuntos sobre os deserviços de hospitais e postos de saúde estão fora de pauta.

O jornal como Guarulhos Hoje, por exemplo, é um dos veículos de notícias online mais conhecido da cidade, porém, sua última atualização referente às dificuldades que a HMU enfrenta, por exemplo, foi em Junho 2018, abordando a falta de salários dos médicos. Fora este caso, o hospital segue uma administração de "toma lá dá cá", com abertura e fechamento de serviços. É difícil entender por que estes casos ainda conseguem espaço nas mídias de Guarulhos.

Nossa cidade não está sendo reconhecida, não está ganhando o cuidado que todo o alto valor de impostos mais do que paga. Guarulhos e seus bairros são esquecidos, assim como o povo que mora neles. O mercado imobiliário se concentra nos centros e vende a ideia de uma grande utopia de se morar tão perto de São Paulo pagando menos, mas quem vive ali, entende que não é exatamente assim.

A grande mídia não se preocupa e nem se envergonha em não levantar o seu olhar para notícias desses nichos. Medo de poucos cliques? Talvez. Mas então nós nos perguntamos novamente: o papel da mídia é ser porta voz de quem? É prestar um serviço social para quem? Prefeito ou a própria redação do jornal devem saber o que se passa e porque essa imagem está sendo vendida. Porém, isso nos faz faz pensar em quem está por trás dessas mídias da cidade que deveriam olhar para as questões sociais de Guarulhos e não vender a imagem perfeita da cidade que mal está se sustentando.

Ano de eleição está chegando, e logo os políticos relembram que seus bairros existem. Porém, até lá, as coisas seguem “como são”, e nada garante que depois, também não vão continuar assim. Infelizmente, para a população do bairro Vila Paraíso e de bairros vizinhos, esta característica da “fase da campanha política” já se tornou um dos maiores mitos populares. E seus representantes, quando questionados por aqueles poucos que ainda tem vontade de mudar o local onde mora, acaba por receber sempre a mesma desculpa de que a verba não é suficiente para atender as necessidades da população. Então, meu caro leitor, nós nos perguntamos: Até quando as coisas vão continuar a ser como sempre foram?