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“A gente não pode desistir de nada, nunca, independente do que seja.”

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    Via212
  • 20 de nov. de 2019
  • 5 min de leitura

Lançamentos e novidades atraem o público para a banca. Foto: Geovanna Soare
Lançamentos e novidades atraem o público para a banca. Foto: Geovanna Soares

Por: Geovanna Soares


Ela não tem e nem precisa de uma placa grande, com nome. Todos sabem que naquele local, fica a Banca da Édina. Presente no bairro desde antes das ruas contarem com asfalto, a banca de jornal é a única em uma boa distância que oferece tudo o que uma banca pode oferecer, cheia de revistas, livros, jornais entre outras tipos de serviços úteis ao dia a dia dos moradores. Porém, ao passar, dificilmente alguém imaginaria quantas histórias - além de todas aquelas descritas nas páginas dos livros e revistas - podem caber dentro daqueles poucos metros quadrados.

Em uma entrevista ao Via 212, Edna Santos contou um pouco mais sobre a sua jornada até a criação de seu negócio próprio, que passou por muitas questões particulares em sua vida.




Você sempre morou aqui no bairro? > Não, eu nasci em São Paulo, na Vila Maria. Depois por conta do meu pai eu vim morar no Jardim Cumbica. Ele tinha comprado mil metros de terra, já que gostava de criar bicho, plantar, e lá na Vila Maria não tinha espaço pra isso. Eu não gostava, e por isso quando casei voltei a morar na Vila Maria. Mas depois que minha mãe ficou doente e faleceu, eu acabei me estabelecendo aqui na Vila Paraíso.


Como foram os estudos para você? > Meus pais eram muito prisão, eles não queriam que eu estudasse, achavam que estudar até o 3º ano já estava bom. E eu só consegui continuar estudando e terminar a escola porque eu casei aos 15 anos. Eu não consegui fazer uma formação, mas o meu sonho era ser jornalista, como não consegui virei jornaleira (risos). Eu queria entrevistar os bandidos na cadeia, ser jornalista policial… eu queria entender a cabeça dessas pessoas, eu era louca (risos). Mas eu acho que eu teria me dado bem se eu tivesse feito isso.


Você teve algum outro negócio antes da banca? > Sim, quando eu morava lá na Vila Maria, eu tinha uma ‘piquininha’ de churros. Eu nunca fui de ficar parada. Mas eu tive que me desfazer de tudo quando vim com a minha família cuidar da minha mãe. Agora já vai fazer 25 anos que eu tenho a banca aqui.


Como surgiu a ideia da banca? > A ideia da banca surgiu do nada! (risos) porque assim, meu marido colocou uma banca bem pequena para um amigo trabalhar, e nesse meio tempo esse cara começou a dar muitos problemas, e como meu marido não era muito bom para resolver problemas quando ele chegou em casa e me contou sobre o que estava acontecendo eu tomei a frente. Fui conferir onde a banca era e peguei as chaves com o rapaz, entreguei para o meu marido mas ele ainda não sabia o que fazer, e então eu disse que ia resolver, pensei: “Vou fazer o que é preciso, vou fazer aquilo movimentar rapidinho.” Mas a banca não tinha nada, não tinha um ambiente de banca, sabe? então eu decidi que ia montar uma banca de jornal de verdade, e por conta disso as brigas que sempre ocorriam por ele ser muito ciumento e possessivo recomeçaram dentro de casa. Por conta disso, eu só consegui montar a banca quando ele faleceu, em 1995. Até então eu tentava e ele não deixava.


Como foi o processo de montar o seu próprio negócio? > No princípio, não tinha entregadores pra região, não tinha nada! e eu tinha que ir buscar todas as mercadorias lá no Tatuapé. As pessoas tinham medo daqui. Fiz um curso lá na estação da Luz para entender o que realmente era uma banca de jornal, de como montar o espaço entre outras coisas. Eu mesma montava as minhas cotas do que queria de produtos e eles davam um treinamento para você conhecer como funcionam as remessas de entrega, as remessas de encalhe e todo o resto do setor.

E eu tinha que buscar na estação da Luz, eu ia de ônibus, porque eu não tinha carro (risos), e também buscava outros jornais de Base Aérea. Eu levantava às 3 da manhã, pegava o primeiro ônibus e ia pra Luz, da Luz passava no Tatuapé, o que era uma rotina bem puxada. Mas nesse percurso eu encontrei pessoas muito boas, que me ajudaram muito. Aos poucos algumas amizades que eu fiz no caminho me ajudaram com algumas remessas. O Xuxa pegava a revista da Fernanda Shimmie e levava pra mim até o Tatuapé, aí eu ia só no Tatuapé e trazia tudo de uma vez. Quando foi em 1998, esse Xuxa me arrumou um entregador. E eu fiz uma amizade enorme com ele.


Quais foram as maiores dificuldades que você passou no processo de começar o seu negócio? > Foi conseguir os materiais que eu queria, quando eu estava tentando pegar cotas da revista Fernanda Shimmiee do jornal Estadão. A Fernando eu não tinha porque eles tinham muito exigência para liberar uma cota, e eu era a única aqui a ter interesse de ir atrás dessas mercadorias, as outras bancas aqui não queriam ir, o que poderia ter tornado mais fácil o processo. E só na Fernanda Shimmie eu fui 26 vezes! Quase todos os dias. Até que enfim, consegui que fosse liberado uma cota pra mim quando um atendente disse para mim desistir e eu não cedi, até que um superior verificou as minhas documentações e como estava tudo certo, resolveu liberar as cotas para mim. Aí depois disso consegui os jornais da Época, o Folhão, o Gazeta, Jornal da Tarde e Gazeta Esportiva. Mas não consegui o Estadão, que também era muito fechado. Mas de novo isso não me impediu, eu continuei sendo persistente e indo todos os dias até o Tietê pedir, já que agora eu tinha mais tempo. Até que de tanto eu ir, acabei conseguindo. Ai depois as outras bancas começara a se interessar porque eu tinha tudo. Com o tempo entrou outras coisas, como a tele sena por exemplo. Ninguém colocava fé em uma banca aqui, mas nem por isso eu desisti, se eu fosse quebrar a cara seria por mim mesma. Então eu sempre falo para as pessoas assim: ‘Tudo o que você tem um sonho, uma vontade, ou um desejo, ou se você acha que aquilo cabe dentro de você, não desiste, de jeito nenhum.’ A gente não pode desistir de nada, nunca, independente do que seja.


Quais motivos fazem você gostar de ter a banca de jornal? > Primeiro, eu gosto de gente. Segundo, eu não gosto de me sentir presa em algo, então trabalhar de outras formas me incomodava bastante. E aqui eu gosto de cada cliente que eu tenho, cada um do seu jeito. Tenho clientes que é como se fossem mais que a minha família. Às vezes, tem gente que eu fico sem rede (para recarga de celular) e a pessoa espera para o dia seguinte! Então, tem tudo isso. Tenho clientes que são extremamente fiéis a mim, e eu a eles. Eu não consigo nem faltar, porque fico preocupada com eles, já tenho consciência das suas rotinas. Se eu não for abrir eu aviso, porque todos merecem respeito.


Como você acredita que a leitura pode ajudar na vida das pessoas? > Ler pra mim é uma arte! A leitura ajuda de formas gerais, em todos os segmentos. As pessoas tem linguajares diferentes, entende? Então com esse conteúdo que você lê, você consegue se portar de forma correta em diferentes lugares com diferentes pessoas. A colocação verbal é diferente, e a leitura te evolui para isso. Pra mim, ela me ajudou em todos os sentidos, desde a arrumar um emprego novo a conhecer pessoas novas, pois eu conseguia compreender melhor o contexto das coisas.

 
 
 

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